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Autismo e Alimentação: Mitos e Verdades

  • Foto do escritor: Zeno Sena
    Zeno Sena
  • 5 de abr.
  • 4 min de leitura

Atualizado: 9 de abr.


O Transtorno do Espectro Autista (TEA) frequentemente apresenta desafios únicos relacionados à alimentação, sendo a seletividade alimentar um dos mais prevalentes. Estudos mostram que entre 46% e 89% das crianças com TEA apresentam algum tipo de dificuldade alimentar, como seletividade extrema, aversão a texturas específicas ou preferência por alimentos processados. A relação entre autismo e alimentação envolve fatores neurológicos, sensoriais e comportamentais, cercada por diversos mitos e verdades que precisam ser esclarecidos. Embora existam várias teorias sobre intervenções dietéticas, nem todas possuem evidências científicas suficientes para recomendação generalizada.


Seletividade Alimentar: Uma Realidade no TEA


A seletividade alimentar representa um dos desafios mais frequentes enfrentados por pessoas com TEA. Estudos indicam que este comportamento é observado em aproximadamente 84,8% das crianças com TEA entre 2 e 10 anos de idade, sendo particularmente persistente em crianças mais novas, até 5 anos. Este padrão alimentar vai além de simples preferências, caracterizando-se por:

  • Consumo de uma pequena variedade de alimentos

  • Preferência por alimentos com padrões sensoriais específicos (cor, textura, temperatura)

  • Recusa persistente em experimentar novos alimentos

  • Ingestão frequente de um único tipo de alimento

Diferentemente do comportamento típico de "não gostar" de certos alimentos, a seletividade no TEA inclui recusa alimentar sistemática, repertório extremamente restrito e, em alguns casos, consumo repetitivo de pouquíssimos alimentos. Um estudo avaliando crianças e adolescentes com TEA identificou que 53,4% da amostra apresentava seletividade alimentar, principalmente relacionada a fatores sensoriais.


Causas da Seletividade no TEA


Os alimentos possuem diferentes características sensoriais que podem intensificar a hipersensibilidade tátil e olfativa frequentemente presentes no autismo. Quando combinadas com a inflexibilidade comportamental característica do TEA, estas sensibilidades podem resultar em restrições alimentares significativas e uma alimentação monótona.

A principal causa da seletividade alimentar no TEA está relacionada às texturas dos alimentos (53,9% dos casos), seguida pelo odor (56,4%), aparência (53,8%) e temperatura (51,3%). Este é um processo sensorial complexo que afeta significativamente a qualidade nutricional da dieta dessas pessoas.


Mitos e Verdades sobre Dietas Específicas


Mito: Dietas sem glúten e caseína curam o autismo


Alimentos à base de farinha de trigo, leite e soja podem ter efeitos indesejados em muitas pessoas com TEA devido a uma possível deficiência enzimática que compromete a digestão completa das proteínas presentes nesses alimentos. Entretanto, isso não significa que uma dieta livre dessas substâncias cure o autismo.

A verdade é que, embora algumas pesquisas apontem benefícios da dieta sem glúten e sem caseína (SGSC) para certos indivíduos com TEA, não há evidências científicas suficientes para recomendar essas restrições como tratamento universal para o autismo. Tais dietas podem ajudar alguns indivíduos a apresentar melhorias comportamentais, mas não devem ser implementadas sem orientação profissional.


Mito: Todas as crianças com autismo são automaticamente celíacas ou alérgicas ao leite


Embora muitos autistas sofram com sintomas gástricos como diarreia, constipação, refluxo e gastrite, isso não significa que todas as pessoas com TEA sejam celíacas ou alérgicas a proteínas do leite. O que ocorre é que, devido à maior permeabilidade intestinal frequentemente observada no TEA, estes componentes podem ter efeitos potencializados, refletindo também na questão neurológica.


Verdade: Corantes artificiais podem agravar comportamentos hiperativos


Estudos demonstram que alguns corantes artificiais presentes em alimentos processados como sucos em pó, gelatina e salgadinhos podem estimular a hiperatividade em pessoas com TEA. Evitar alimentos com corantes artificiais pode ajudar a reduzir comportamentos hiperativos em algumas crianças autistas.


Saúde Intestinal e Autismo


Há uma crescente compreensão da relação entre cérebro e intestino (eixo intestino-cérebro) no contexto do TEA:

  • Muitas pessoas com autismo apresentam problemas intestinais recorrentes, incluindo diarreia, constipação e refluxo

  • A microbiota intestinal alterada pode influenciar aspectos comportamentais

  • Pesquisas recentes apontam o uso de prebióticos e probióticos como uma estratégia potencialmente benéfica para o manejo do TEA

O uso de probióticos em cápsula é recomendado por especialistas, assim como o consumo de alimentos ricos em "bactérias boas", como iogurtes. Várias pesquisas propõem que a microbiota intestinal alterada pode contribuir para manifestações comportamentais no TEA, tornando intervenções nesse sentido uma área promissora de investigação.


Padrões Alimentares e Indicadores Nutricionais no TEA


Pesquisas indicam que crianças com autismo frequentemente apresentam:

  • Alto consumo de alimentos processados e ultraprocessados

  • Baixo consumo de frutas, legumes e verduras

  • Maior prevalência de sobrepeso e obesidade em comparação com crianças neurotípicas

  • Consumo inadequado de micronutrientes essenciais

Estas tendências alimentares podem ser parcialmente explicadas pela seletividade alimentar, mas também por fatores como comer em frente à televisão (que dificulta a percepção de saciedade) e desafios relacionados à prática de atividade física.


Sinais de Alerta no Comportamento Alimentar


Certos comportamentos alimentares atípicos podem ser sinais precoces de TEA. Um estudo publicado na revista Research in Autism Spectrum Disorders identificou que 70% das crianças dentro do TEA apresentam comportamentos alimentares incomuns – número 15 vezes maior em comparação com crianças neurotípicas. Entre estes comportamentos estão:

  • Dificuldade para largar a mamadeira

  • Hipersensibilidade à textura ou temperatura dos alimentos

  • Recusa em aceitar mudanças na dieta

  • Guardar alimentos no bolso em vez de comer

  • Preferências alimentares extremamente limitadas

Enquanto crianças neurotípicas geralmente expandem gradualmente sua aceitação alimentar, crianças com TEA tendem a manter padrões rígidos de seletividade por períodos muito mais longos.


Estratégias Práticas para Melhorar a Alimentação


Com base nas evidências científicas, algumas estratégias podem auxiliar famílias e cuidadores:

  1. Respeitar as preferências sensoriais da pessoa autista, observando as características dos alimentos aceitos e buscando alternativas com propriedades sensoriais semelhantes

  2. Realizar aproximações graduais com novos alimentos: deixá-los no campo visual, depois mais perto, permitir o toque, cheirar, encostar na boca e, finalmente, experimentar. Este processo pode levar semanas e requer paciência

  3. Criar oportunidades de interação positiva com os alimentos, especialmente para crianças, incluindo brincadeiras que envolvam comida de forma lúdica

  4. Oferecer variedade dentro da rotina, respeitando limitações sensoriais. Em caso de recusa, evitar insistência excessiva

  5. Buscar orientação profissional individualizada com nutricionistas e outros especialistas familiarizados com as particularidades do TEA

 
 
 

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NeuroEquilíbrio | Psiquiatria Especializada no Cuidado da Saúde Mental

© 2025 por Zeno Sena.

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